quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Fernando Pessoa desencarna em 30-XI-1935. Do seu testamento e mantras...

Comemoramos hoje, mais precisamente cerca das oito da noite, a desencarnação de Fernando Pessoa, elo bem importante da Tradição Espiritual Portuguesa. Sondemos então um pouco a sua demanda bem como alguns dos mantras, ou sílabas e palavras de poder,  semeados por Fernando Pessoa  na sua vasta floresta ora de alheamento e desassossego, ora de procura e de realização, como ele escreveu em inglês, quest and attainment, os dois estágios, numa linguagem ocultista inglesa, do caminho iniciático trilhado  com a genialidade inata e estudos persistentes de ciências ocultas e de gnose dita iniciática, e que incluíram a astrologia, o espiritismo, a teosofia, a alquimia, o hermetismo, a gnose, a cabala, os mistérios, o Tarot, a magia e as vias esotéricas e simbólicas das religiões e dos mitos, em grande parte teoricamente por livros...
Se isto foi sendo estudado e aprofundado ao longo da sua vida, resta-nos saber, ou fica em aberto, o que  terá sido mais útil à sua realização interna e o que foi busca e trabalho não tão directamente produtivo ou perene, sem grande valor para o seu ser espiritual quando entrou no além, momento este sempre bem importante, sinalizado, por exemplo, com Antero de Quental, quando ambos afirmam, seguindo da tradição Grega o dito da Antologia Grega, - Morrer é ser iniciado. Mas pouco sabemos acerca do seu estado interior nos últimos dias, além do crescente desprendimento terreno, ou mesmo desilusão e tristeza, que se podem notar nos seus últimos poemas... 
A par (ou mesmo acima, e esta é uma avaliação importante...) da busca espiritual, a qual o terá levado a um certo progresso num caminho iniciático,  esteve sempre a escrita, a poesia, a obra genial na Literatura e onde se empenhou de tantos e diversos modos que se tornou um mestre mundial da heteronímia, não só com os três mais perfeita e até astrologicamente configurados (Caeiro, Reis e Campos) e ele próprio, mas com as dezenas de heterónimos, ou pelo menos cerca de 120 semi-heterónimos, figuras menores de um grande dramaturgo e drama, rico na descaracterização pessoal em troca da infinita riqueza imaginável, ou talvez mesmo, como ele apontou em alguns textos, para se assumir prometaicamente como um Demiurgo, fazendo na sua obra criativa o que a Divindade gerara com a Manifestação ou com a fundação ou criação do Cosmos.
Contextualizemos simbolica e astrologicamente,  que no embate no seu céu natal lisboeta de Mercúrio e de Vénus, ou da mente-comunicação e o amor-comunhão, foi o primeiro que triunfou bastante mais e por isso ele se auto-perpetuou pela escrita e não pela descendência física e o amor. E assim Fernando Pessoa, na sua única mais significativa e afectiva relação, aquela com a jovem e delicada lisboeta Ofélia Queirós, sua companheira de escritório, não a conseguiu plenificar, embora embora estivesse com Ofélia por duas vezes em estado de namoro. A justificação das duas separações foi afirmada com razões precisas...
                                             
Assim, algum tempo depois já do seu re-despertar espiritual dos anos 1914-15 (em parte o ano de 1915 sincrónico e em reacção à tradução encomendada que fez de obras de Teosofia), tendo passado pela aventura de Orpheu e das outras revistas modernistas onde colaborou, tal como a Exílio, de Augusto de Santa Rita (onde assina as últimas páginas magistralmente) e pela criação e doutrinação complexa dos heterónimos (nomeadamente António Mora e Rafael Baldaya), por vezes desgastantes nas suas divergências complementares, sem esquecer o desassossego de Bernardo Soares, mais precisamente em 29/11/1920, após oito meses de namoro confirmados pela correspondência, escreve à amada: «O amor passou. Mas conservo-lhe uma afeição inalterável, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequenina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua índole amorável. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil. Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ophelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam».
Pode-se legitimamente perguntar se ele estaria a ser sincero ou se mistificava um pouco o seu empenho no caminho espiritual, tão exigente por parte de uns mestres que deveriam ser na altura idealização e aspiração, embora seja de se realçar  que tal afirmação cinco anos depois de ter entrado mais no caminho espiritual pode indicar que durante esses anos  esteve com  força e fé num certo caminho de discipulado  e sob alguma luz superior.
Um texto significativo de 21/11/1914 mostra-nos já uma das aparições do famoso É a Hora que constantemente soou nele: «Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser».
O segundo regresso afectivo a si mesmo asceta ou solitário, ou seja, a outra separação de Ofélia, sucede em 1929, após um relacionamento de quatro meses (Setembro de 1928 a Janeiro de 1929), e no qual a presença algo perturbante ou violenta de Álvaro de Campos surge mais fortemente,  e justifica a sua recusa de continuar a namorá-la ou mesmo casarem-se apenas com o facto de ter uma obra literária para cumprir... 
Seria interessante sabermos mais  da consciência que Fernando Pessoa teria de já não serem os mestres a impulsioná-lo a tal separação e também a de estar a fechar a sua vida sentimental e amorosa e a afunilar-se numa vida mais solitária e provavelmente para ele já não necessitando de alegar os mestres e justificando apenas pela dedicação literária à sua obra, certamente um apelo, grito e ferida constante no seu quotidiano semi-cinzento dos escritórios comerciais da Baixa lisboeta.
A par destes dois aspectos fundamentais da sua vida, a busca ocultista (nomeadamente no estudo da astrologia e das ordens mágicas) e espiritual e o amor afectivo a outro ser, um outro se ergue, e é o da sua inserção na contemporaneidade, na sociedade, em Portugal e na Europa, com uma consciência e sentido crítico tão argutos que devemos a tal a existência de milhares de páginas de análise sociológica, histórica, cultural e política, grande parte delas consagradas a Portugal,  culminando com algumas publicações em vida muito significativas, entre entrevistas e opúsculos, destacando-se por fim a Mensagem, onde verte muito do seu conhecimento tanto esotérico como mítico para iluminar, de acordo com a sua visão, sensibilidade e interpretação, os seres ou figuras, as forças ou momentos históricos tutelares de Portugal e que ele, cultor da Tradição Espiritual de Portugal, ou como ele chamava, a grande Alma Portuguesa, queria que não fossem só passado, mas que, no presente tão enovoado, o iniciático  É a Hora proferido no fim da Mensagem, fizessem erguer de novo a grande Alma Portuguesa e os seus mais conscientes ou despertos Fiéis do Amor e da Gnose.

Uma versão bem ilustrada por uma plêiade de artistas e que co-prefaciei.
Por motivos vários sabemos como Portugal foi entrando em sucessivas crises e num afastamento da plenitude cultural que Fernando Pessoa tanto sonhara, ou mesmo se embriagara e deixara entranhar, com Portugal a liderar um V Império, esfumando-se e sobrevivendo tal nuns poucos continuadores mas sem a genialidade, profundidade e força que conseguiriam movimentar tanto o compreender ou ver como o querer ser mais profundo dos Portugueses, aliás hoje ainda mais variado e disperso, manipulado e alienado, e que fora tão bem invocado e evocado magicamente na Mensagem...
Muitos dos seus estudos astrológicos, de profecias, do sebastianismo e dos mitos acabaram por soçobrar ou configurarem-se hoje por vezes como mitificações ora incorrectas ora exageradas, incapazes de produzirem o levantamento moral e ético, cultural e espiritual dos Portugueses e logo de Portugal, cada vez mais pressionado pelas crises que uma classe política e financeira ainda demasiado avessa a tais valores, e em especial ao ético, originou e continua frequentemente a causar.
Contudo, há que não perder a esperança e, no vasto oceano de pensamentos e compreensões, símbolos e intuições que ele nos deixou nos seus escritos, ver que muitos continuam activos ou operativos já que ele próprio pensava que seria num futuro, apontando, por exemplo, na carta ao Conde Keyserling a data de 2130, para Portugal entrar numa terceira fase ou movimento de sua alma espiritual profunda. Certamente que há aqui imaginação projecção profética de Fernando Pessoa...
Poder-se-a dizer que a nossa missão, como elos da Tradição Espiritual Portuguesa que o inspirou e protegeu no que pode,  será então discernir quais são os ensinamentos mais valiosos e perenes para nós, tanto cidadãos do século XXI como Portugueses no caminho iniciático ou espiritual, que possamos encontrar nas suas obras ou nas de outros instrutores ou mestres, ou ainda as que possamos nós próprios intuir ou gerar.
No último ano da sua vida as cartas e notas autobiográficas, escritas na linha de Antero de Quental, que foi ao longo dos anos e sobretudo ao princípio uma referência para ele muito importante, ajudam a compreendermos que o que ele publica ou pode afirmar na altura de mais esotérico, o mais interno ou íntimo até à Mensagem é bem pouco (à parte alguns poemas bem importantes e espirituais na revista Presença ou ainda em alguns prefácios), algo bem expresso ainda no facto de ter posto mesmo reservas às perguntas do seu amigo Adolfo Casais Monteiro respondendo-lhe a 13-I-1935 ("Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma"). 
Será pouco depois que a polémica com a proibição das Sociedades Secretas (e da Maçonaria sobretudo) o força a abrir mais o seu jogo, até então bem interior, redigindo a famosa nota autobiográfica de 30 de Março de 1935, oito meses exactos (e dos quais na sua evolução interior se sabe ainda pouco...) antes de desencarnar, e escrevendo bastante contra Salazar e a Igreja Católica (que estavam a apoiar o tal Projecto de Lei, contra a liberdade de associação das sociedades ditas secretas, do deputado José Cabral, bem zurzido por Fernando Pessoa em textos então inéditos), e afirmando-se iniciado, ao finalizar tal carta auto-biográfica:
«Posição religiosa: Cristão gnóstico, e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais diante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.
Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.
Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo mítico, de onde seja abolida toda infiltração católica-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».
Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.
Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, grão-mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania»...
Foi a última grande explosão órfica, gnóstica e templária de Fernando Pessoa, doa a quem doer, na altura ou agora, mas bem compreensível pelo ambiente que o rodeava, os vários lados de que sofria ataques ou desilusões e as suas crenças e conhecimentos.
Fica como um testamento espiritual (no aspecto iniciático ainda hoje não bem discernido ou compreendido...) e ético bem actual nos nossos dias de injustiças e crises, manipulações e opressões, tão constantes e fortes que sem dúvida apelam e nos impelem «a combater, sempre e em toda a parte, os três assassinos do Mestre em potencial em cada ser - a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania»...


Será então nos textos e poemas esotéricos, muitos deles só publicados postumamente, que encontraremos as mais duradouras pérolas que depositou ou germinaram no seu oceano tão criativo quão complexo, e que urge portanto estudar, meditar e aprofundar e nós neste dia comemorativo iremos agora transcrever apenas dois mantras ou palavras de poder, para que possamos de quando em quando provar, rectificar ou aprofundar os sentidos ocultos, internos ou luminosos deles, tal como recomenda o anagrama hermético por ele conhecido e referido VITRIOL ("Visita o interior da terra e rectificando descobrirás a pedra oculta").
Lembremos então um importante mantra da Tradição Ocidental e perene, e que ele muito estudou ou glosou, desdobrando as letras latinas escritas sobre a cruz da Gólgota, INRI, Iesus Nazarenus Rex Ieodorum, entre outras variantes, em In nobis regnat Ignis, ou seja, "Em nós reina o Fogo" do conhecimento e do amor, a luz ardente do espírito e da Divindade. Das outras variantes podemos nomear In nobis regnat Iesus, ou ainda In nobis regnat Ille, com um Ele muito polisémico, ou aberto ao Ele (ou Eu) superior que mais sentirmos, aspirarmos ou amarmos...
Esta prática orativa-meditativa profunda e interiorizada ajuda a talhar ou a desenvolver o corpo de Luz ou de Glória, Xvarnah na tradição Persa, ou o Augoeides dos Gregos, entre outras designações e tradições...
O outro mantra da Tradição Espiritual Portuguesa que vamos transmitir, por ele muito valorizado, é o Talant de bien faire, o lema do Infante D. Henrique, Talante de fazer o Bem, ou Vontade de fazer o Bem, ou ainda Fazer o Bem com talento, habilidade, adaptabilidade, inspiraçãoInvocarmos e fazermos o Bem...
Saibamos nós no nosso dia a dia termos momentos de prática espiritual repetindo estes ou outros mantras ou sílabas de poder, e criando estados interiores de paz e claridade mental e intuição espiritual, no vasto corpo místico da Humanidade ou Campo Unificado de energia informação consciência, como hoje diz na ciência moderna, no qual estamos todos inseridos.
E saibamos agir dinamizados por tais estados e orientados pela presença interior solar e o desígnio do Bem (comum e divino), expresso pelo Infante D. Henrique, o qual desagua numa navegação diária de se comunicar e logo criar crescentemente a manifestação da harmonia, do Bem, da plenitude, da dimensão universal, angélica e Divina nas nossas vidas e relacionamentos, pensamentos, sentimentos e actos.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Antero de Quental e as suas cartas, na Tradição Espiritual Portuguesa. Com vídeo de leitura.


                        Antero de Quental na Tradição Espiritual Portuguesa.
Leitura levemente comentada de partes da sua correspondência, com gravação em vídeo de 16 minutos, realizada em 25-II-2016.
                                    
                  Que o Amor Divino brilhe mais em Antero e em nós!
                   

Da Tradição Espiritual Portuguesa. 2ª aproximação, manhã de 25-XI-2016

Pequeno improviso sobre a Tradição Espiritual Portuguesa, realizado como preparação na manhã do dia da conferência (25-XI) no Espaço Salitre-Amaro acerca "Da Tradição Espiritual de Portugal e alguns dos seus elos: Bocage, Antero de Quental, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva e Dalila Pereira da Costa".
                                          
                                                Um dos eixos ou colunas de Portugal...                                                                 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Dalila Pereira da Costa, uma alma sibílica e bem portuguesa. Luz e Amor para ela!

Dalila Pereira da Costa (10-III-1918 a 2-III-2012), portuense e duriense, foi uma poetisa, escritora,  mística e vidente (sobretudo onírica), exegeta dos mitos e também mitificadora, dotada de forte capacidade de sentir e intuir o sagrado, o profundo, o subtil, o telúrico, o espiritual, sobretudo da alma e terra, história e essência Portuguesa, manifestando esse dom empenhada e amorosamente durante mais de cinquenta anos, gerando cerca de trinta obras, no seu estilo muito íntimo de pensar e de escrever, ora de forma racional e dedutiva ora de modo poético, projectivo e intuitivo, os mitos e tradições, os acontecimentos e as linhas de força de Portugal e dos povos e tradições mais a ele ligados.
Trinta obras nas quais, estudando, sentindo e especulando as transmissões de escritores e artistas, poetas e místicos anteriores, de modo original e intenso, se abriu ora aos lados atávicos ou ocultos das memórias e reminiscências do passado, ora ao comparativismo ecuménico, ora às profecias, anseios e visões de um futuro melhor, unido tudo no mesmo círculo de Saudade e de Amor à Divindade e a um Portugal sagrado e harmonioso, cumprindo o seu luminoso papel na Humanidade, por ela tanto valorizado e mitificado.
Sem ter sido mãe fisicamente, tendo-se casado e vivido alguns anos no Brasil e na Bélgica, podemos dizer que ela se tornou uma mãe de Portugal e, assustada e pessimista com o estado geral de desenraizamento do país nas últimas décadas (o que já tinha causas mais antigas), procurou metodicamente sensibilizar as pessoas para as nossas raízes (materiais e imateriais) mais profundas e valiosas, para que estas lhes pudessem dar sustento e inspiração e, ao serem preservadas,  investigadas e aprofundadas, suscitassem mais conhecimento,  harmonia e perfeição, numa  Tradição assim perenizada.
O seu magistério discreto, pois sempre esteve afastada das Universidades (embora licenciada em Histórico-Filosóficas, em 1944) e dos grandes grupos e meios de comunicação, foi sendo acolhido e aceite pelos leitores das suas obras, editadas paulatinamente pela Livraria Lello (que era de familiares próximos), alguns deles  mais identificados ou receptivos à Tradição da Filosofia Portuguesa e em especial ao movimento da Renascença Portuguesa e da sua revista Águia que, nos princípios do séc. XX, eclodira no Porto graças a pensadores e poetas como Leonardo Coimbra, Teixeira Pascoaes, Jaime Cortesão, Sampaio Bruno, Teixeira Rego e que fluiu, ainda que afunilando um pouco por vezes, em discípulos como Sant’Anna Dionísio, Agostinho da Silva, Álvaro Ribeiro, José Marinho, Delfim Santos, Afonso Botelho, António Quadros, e nos quais a Dalila se inseria...
Muito admiradora de Antero de Quental, de Leonardo Coimbra e de Teixeira de Pascoaes foi se dando ao longo da vida, sobretudo epistolarmente, com Agostinho da Silva, Sant’Anna Dionísio, Afonso Botelho, António Quadros, Pinharanda Gomes, Lima de Freitas, entre outros menos conhecidos, mas a sua alma ligava-se ainda com os mestres escritores mais antigos de Portugal, em especial  Gil Vicente e Camões, Frei Agostinho da Cruz e alguns outros espirituais, dos quais nos fala no seu importante Místicos Portugueses do século XVI.
Mas também nos seus estudos dos deuses, mitos e símbolos que os povos que passaram pela Península Ibérica cultivaram, nomeadamente visíveis na arte e religião pré-histórica e pré-Cristã, a Dalila valorizou e destacou várias entidades  cultuadas imemorialmente nas águas, nas serras e na Natureza, tais como Deusas e Deuses (desde Cibele a Bande), Anjos e Sibilas, shamans, bruxas e mouras, devendo-se mencionar a sua última obra  As Margens sacralizadas do Douro através de vários cultos, Lello, 2006, bem ilustrada e bastante intuitiva, da qual partilho a sua bela letra na dedicatória que me fez.  
 Dalila (nascida no signo dos Peixes) era uma visionária, sobretudo em sonhos, ou nas súbitas erupções nocturnas de mensagens, mas também na iniciática experiência iluminativa aos 20 anos, que se repetiu mais uma ou duas vezes (tal como relatou no fim da sua vida, nomeadamente no livro Instantes) e uma hermeneuta ou intérprete imaginal dos mitos, sentidos e níveis do Portugal histórico e sacro, o que começou a manifestar publicamente somente a partir dos 52 anos, com a sua fulgurante obra O Esoterismo de Fernando Pessoa.
                                     
Poderíamos compará-la mesmo uma Sibila, na sua clarividência, presciência  ou mesmo antevisões (por vezes condicionadas pela sua visão bastante fundada num Cristianismo providencialista e muito generoso com Portugal) e, seja nas suas terras e quintas durienses seja na sua tebaida (embora bela mansão com jardim, dada a simplicidade com que vivia) portuense à Av. 5 de Outubro nº 444, Dalila foi ao longo da sua vida apurando o conhecimento e a escrita, em missões constantes de acabar uma ou outra obra, de redigir os artigos que lhe iam pedindo, ou ainda de intuir mais arcanos das harmonias da alma e do espírito, da terra, de Portugal e do Cosmos. Mas, no fim da vida, confessava-me que já tinha dito tudo, e que cabia agora a outros tal tarefa…
Na verdade, Dalila, imbuída do sentido de missão individual e nacional que cumpria metódica e sagradamente, foi também e sempre uma estimuladora das vocações e dos trabalhos dos seus amigos, interrogando-os amorosamente como estavam e aconselhando-os, pois sentia a falta que eles faziam ao ambiente anímico-espiritual português, para ela visto como que numa fase última de decadência, caos, obnubilação ou mesmo podridão donde se estaria a renascer ou a despertar unificantemente,  seja com o Anjo ou Arcanjo de Portugal, com Nossa Senhora ou com o Espírito Santo, e rumo à realização sonhada medievalmente como a III Idade,  ou ainda o V Império religioso ou espiritual universal, desde o P. António Vieira, e com Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, muito trabalhado conceptualmente e poeticamente no domínio utópico e mistagógico e no desejado dinamismo anímico e social.
Era pois, Dalila, uma mulher e uma mãe espiritual dotada tanto do amor ao passado como da esperança no futuro e muito estimuladora dos veios próprios de cada ser, sempre norteada pelo amor a Portugal e ao Divino, em especial manifestado em Maria, a Nossa Senhora, como usualmente chamava, Padroeira de Portugal, no fundo, a encarnação e assunção redentora para o Ocidente católico do Princípio Feminino, da Grande Deusa antiga, ou ainda da Terra Mãe, como ela chamava e tanto amava.
Não irei neste breve testemunho desenvolver os aspectos mais essenciais da sua vasta obra, em que tantos núcleos de sacralidade Portuguesa, e em ligação com a Europa e o Mundo, foram por ela bem aprofundados, com toda a sua poesia ou esperança, mas não podemos deixar de nomear o culto do Arcanjo Custódio de Portugal e do Anjo inspirador ou génio de cada um de nós, este bem equacionado por diferentes perspectivas e tradições, nelas se destacando as que recebeu do misticismo Iraniano através de Henry Corbin.
Em relação a Portugal, além do seu Arcanjo, cabe destacar Jesus Cristo, abençoador de Portugal pelo menos miticamente em Ourique, e Maria, sua mãe, para a Dalila em Fátima refundando a pátria, sendo sempre concebida como epifania da Deusa-Mãe e profundamente sentida e venerada, estudando e valorizando muito bem múltiplos aspectos e sinais da permanência do Feminino sagrado no espaço português, reflectindo tal em quase todos os seus livros mas neles se destacando o Da Serpente à Imaculada, Gil Vicente e a sua Época, A Ladainha de Setúbal.
O seu entendimento e visão do Divino estava todavia algo condicionado pelo Catolicismo  Romano (embora sendo bem crítica da Inquisição) e era bastante ecuménico e universal, aceitando a perene revelação divina e espiritual em todos os tempos e povos (mencionando por exemplo um dos pioneiros de tal consciência Pico della Mirandola, entre nós o Pico Mirandola, citado por Garcia de Resende, na sua censurada Miscelânea), assumida ou referida sob diferentes nomes e formas, e vendo a concretização de tal no desabrochar alquímico ou iniciático do Espírito dentro de nós, a realizar-se pelas mais diversas vias mas das quais realçava a poética, a da saudade, a heróica, a  da santidade, a mística, a sacrificial, a dos mistérios da morte e do renascimento, a da viagem e demanda, a do amor e diálogo...
Daí a sua arqueologia do artístico e do sagrado em Portugal, visando trazer ao de cima as linhas de forças do inconsciente colectivo, do mundo imaginal e da sua história, que os portugueses deveriam reconhecer, e logo admirar ou seguir, e tanto os santos e heróis como os amantes, profetas e poetas, tal como Afonso Henriques, a Rainha S. Isabel e D. Dinis, Pedro e Inês, Nuno Álvares Pereira, D. Leonor e Vasco da Gama, Camões, Sá de Miranda, o P. António Vieira, Antero e Pessoa.
E, claro, reconhecer, como já referimos,  as deidades e divinizações indígenas e lusitanas, as  quais foram verdadeiras teofanias sentidas ou intuídas em montanhas ou fontes, pedras ou árvores, no fundo, na natureza fecunda e espiritualmente habitada, a Mãe Terra sagrada e que Dalila, como duriense por ascendência, bem sabia sentir e admirar, tal como eu comprovei várias vezes em peregrinações, passeios e diálogos.
Convivi bastante com Dalila, desde os 25 anos, tendo chegado a ela via Agostinho da Silva, quando vivi em Guimarães. E, quando dava aulas de Agni Raja yoga e meditação no restaurante Suribachi no Porto, com regularidade estava com ela, bem com Sant’Anna Dionísio, com este em longos diálogos, por vezes tácitos ao modo pitagórico, e ainda com Mário Pinto, um bondoso espiritualista que editava uma revista policopiada, o Infante Mensageiro.
A nossa relação foi ainda intensificada pela particularidade de me ter cedido durante anos a possibilidade de passar umas semanas, em Agosto, quando eu fazia anos, no Douro, nas suas quintas. Lembro-me bem como, nas faldas do Marão sagrado, me estabeleci pela primeira vez numa casa antiga pequena sem água, nem electricidade, sem cama ou chave e onde até passavam raposas e doninhas. Foi no primeiro ano, talvez em teste iniciático, pois no segundo ano já me cedeu uma casinha mais alta ou perto do Marão, com chave e cama, mas sem electricidade e ainda a púcaros de água, pois a saborosa e calma fonte, junto a uma frondosa nogueira, não era longe. 
De tais maravilhosos lugares silenciosos aproveitava para mergulhar interiormente em meditações que antecediam o renascimento do meu ciclo anual de aniversariante, ou para subir a serra do Marão até ao alto, onde celebrava as minhas litânias, por ela apreciadas quando lhas lia, pois era também uma cultora das montanhas sagradas e sobretudo do seu Marão. Por fim, cheguei a ficar na sua bela casa de Fontes, uma das vezes com Sant’Anna Dionísio e ela, para uma peregrinação às igrejas românicas do rio Douro, levados na carrinha do snr. Acácio e onde fomos a Cárquere, a S. João da Pesqueira, a S. Pedro de Balsemão. Belos  momentos que bem agradeço...
Dalila sabia aliar à sua grande sensibilidade humana, poética e religiosa, e ao seu amor pela Pátria e pelo Divino, um sentido do dever de pater-mater família não só de generosa e cuidadosa hospitalidade como de pragmática administração das suas quintas e do seu vinho, com o seu caseiro, o snr. Acácio, a snra. Adelaide, a mulher, e os dois filhos, os quais, tratando de tudo manualmente, exigiam contudo com regularidade a sua presença humana e capacidade de decisão. 
Também a sua pequena tebaida, numa tapada urbana portuense, tinha nela uma autêntica fada, muito empenhada nas flores, arbustos e árvores que rodeavam a casa, os quais frequentemente eram a primeira parte da visita que lhe fazíamos, sobretudo quando as belas japoneiras ou outras árvores emanavam cores e perfumes maravilhosos. De realçar a sua pequena estufa onde apurava, certamente com a ajuda de gnomos e fadas, belos espécimes de plantas, com os seus nomes que me ia presenteando os ouvidos e alma, nomeando-as, ou levando-me a acariciá-las e admirá-las: “ora veja, ora veja”.
Nesta casa apalaçada do final do séc. XIX, princípios do XX, que bem merecia tornar-se um núcleo museológico ou uma fundação na qual o seu legado fosse aprofundado e divulgado (o que não veio a suceder...), Dalila tinha ao seu dispor numerosas salas bem animadas pela Tradição Portuguesa em imagens e livros, tendo no rés de chão, à direita de quem entrava, a vasta sala da biblioteca, onde recebia os visitantes (em geral com um cãozinho, com quem sempre vivia afectiva e carinhosamente, a reclamar festas ou atenção) e onde cerca de três mil livros guarneciam o corpo de estantes instalado em duas paredes, enquanto que nas outras duas alternavam as janelas e cortinados brancos, que davam para o jardim frondoso, com as imagens e gravuras de família ou de predileção. Em alguns móveis iam-se depositando seja as fotografias dos amigos principais seja os objectos sagrados que lhe oferecíamos. 
               Dalila Pereira da Costa em diálogo com a Melissa Pinheiro na sua biblioteca. Fotografia tirada por mim, mas já surgiu na net truncada e sem referência de autoria.
 Uma grande mesa ao centro continha os livros que recebera nos últimos tempos, ou que andava a ler, e outra mais pequena continha obras de referência, como as de Henry Corbin, Mircea Eliade, Louis Massignon, Rudolf Otto, etc. Era aqui que se travavam os diálogos maiores e por vezes mesmo meditações silenciosas que eu, numa linha de prática mais yoguica, propunha, algumas vezes anuindo, outras sugerindo ela antes alguma colação na sua copa, onde sempre se esmerava em oferecer ainda fruta para eu levar comigo...
Era no 1º andar que a Dalila tinha o seu pequeno escritório (que partilhava com mais reserva) e onde numa máquina de escrever antiga ia redigindo e corrigindo os seus livros, fiel à sua missão e inspiração, enriquecendo assim a Tradição cultural, mítica e espiritual Portuguesa, da qual é certamente no séc. XX uma das mais valiosas cultoras. Escritório pequenino, num dos quatro cantos da casa, era verdadeiramente uma torre de vigília, um altar da sua vocação onde ia tecendo a teia magnífica da sua obra amorosa. 
Dos nossos diálogos, ora nestas duas salas, ora na salinha de jantar ou na varanda para as traseiras da casa, ou passeando no jardim, fica a sua suavidade e subtileza e uma grata amizade, que perdura no mundo espiritual e interior, e apontamentos nos diários, ou cartas, cartõezinhos e dedicatórias, além de algumas poucas fotografias e vídeos (já que ela era muito avessa a tal, na sua enorme discrição), mas é certamente nos seus livros que podemos ir buscar mais as deduções, intuições e esperanças e assim comungar com ela e o caminho e ensinamentos. 
Ligada ou discípula do movimento portuense da Renascença Portuguesa, leitora dos grandes mestres espirituais, desde os místicos cristãos e iranianos (Shorawardi) aos mestres do séc. XX, tais como Ramana Maharishi, Aurobindo, Carl Gustav Jung, Henry Corbin, Louis Massigon, René Guenon, Jean Herbert, Mircea Eliade, Dalila Pereira da Costa foi sobretudo mais original na verbalização artística, poética e densa da sua visitação da Tradição Portuguesa, desde a arte à arqueologia, lendas, movimentos literários,  ordens religiosas, místicos e espirituais, e fê-lo com grande coerência, intensidade e unidade, muito tingida pelo seu amor ao Princípio Feminino e à missão espiritual de Portugal, que sonhava ou intuía, e pela qual muito sofria, orava e ansiava.
Dalila tinha uma visão clara de que o essencial era o nosso aperfeiçoamento anímico e a ligação a Deus, ou a união em cada um de nós da transcendência e da imanência, do Céu e da Terra, da reminiscência e da presciência, e acreditava mesmo que os Portugueses, mais do que outros povos, por várias razões de confluência de forças e correntes, e pela sua capacidade de aceitação do outro e de harmonização dos três estados ou funções (da tradição indo-europeia, bem desenvolvidos por Dumézil, e das várias religiões), tinham e têm essa missão reintegradora e comunicadora, fraterna e ecumenicamente, como já o tinham debuxado e realizado a certo nível, segundo as linhas de força Franciscanas, Templárias e da Ordem de Cristo, na época dos Descobrimentos.
Para isto tínhamos, ou teremos, que reconquistar forças primordiais e despertar mesmo poderes ocultos, tal como o terceiro olho, a que chama mesmo o da sabedoria ou da visão arcaica, ou ainda o despertar da shakti (energia) interna, pelo que parte do seu labor de escritora foi dirigido para assinalar tal poder, forças e capacidades psico-espirituais no que ela compreendia ou intuía nas tradições portuguesas, nas raízes primordiais da grande Alma portuguesa, na Tradição Perene em Portugal, embora por vezes talvez exagerando na exegese das capacidades clarividentes dos antigos e no valor representativo de obras poéticas que nem sempre implicariam uma verdadeira realização interior. Também as comparações valorizadoras da Saudade como meio iluminativo, ou o providencialismo Divino sobre Portugal podem ter sido demasiado amplificadas...
Mas, significativamente, apesar do seu muito amor a Portugal e aos seus grandes seres e heróis, ao Catolicismo e aos seus místicos e poetas, Dalila estava bem ciente do lado excessivamente masculino, patriarcal, ou mesmo machista do judeo-cristianismo, o qual, aliado à “peçonha” da “cobiça e ambição sem freio”, fez falhar em parte a possível ou a potencial  missão Portuguesa, pelo que valorizava muito o renascimento da potência anímica feminino, já vivenciada tão sagradamente pelas civilizações pré-indo-europeia e pré-cristãs e que deixara fundas raízes na alma Portuguesa, acessíveis seja em sonhos e visões, seja a partir da nossa apreciação e contemplação reconhecendo-a nas formas artísticas pré-históricas, tais como as mamoas, os vasos campaniformes, os ídolos placas, as espirais, o culto das serpente, os berrões ou porcas, as águas e da fecundidade. 
Algo que fora bem vivenciado pelos Celtas, os Galaicos-Portugueses (cuja separação, para Dalila como para Agostinho da Silva, foi trágica), com os Druidas, as Sibilas, as Mouras encantadas, Bruxas e Meigas, e de cuja alma e poesia destilada se apurou e se pode apurar muito do Amor-Conhecimento pleno e reintegrador tanto da Natureza e da Mulher como de Deus e da Humanidade, que nos caracterizam no nosso melhor ser actual e potencial...
Podemos dizer então que é a hora, e com as celebrações e fecundações do ano do seu centenário em 2018, ou sempre que lermos este texto, de continuarmos as suas pisadas e voos, aprofundar veios e virtudes, aperfeiçoar as práticas espirituais, tais as que ela praticou: pouca dispersão, oração, escuta silenciosa e anamnese ou reminiscência, registo dos sonhos e tentarmos assim avançar mais na iniciação, na elevação das energias psíquica, tal a indiana shakti ou kundalini, na abertura do olho espiritual, na formação do corpo glorioso, para ela, o verdadeiro meio de transmissão interior e exterior…
Despertemos e vivamos  cada vez mais na harmonia do céu e da terra, da justiça e da verdade, da transcendência e da imanência, na complementaridade harmoniosa dos contrários, na união com o Anjo e na ligação à Divindade, fluindo mais dinamicamente na vivência do Espírito Santo e na grande Alma Portuguesa, à qual a Dalila constantemente se deu, cultivou ou aspirava e onde agora se encontra mais supra-consciente e inspiradoramente, ajudando-nos, por exemplo, a ver mais claro, por entre a letra da sua obra ou a dispersão mundana, o Espírito que é vida e verdade, amor e liberdade e como poderemos fortificar tal em Portugal...
Este texto foi escrito (e não pus ainda as fotografias de sua casa) para a comemoração da sua desencarnação terrena para a revista Nova Águia do 2º semestre de 2012 e foi em 23/24 de Novembro de 2016 melhorado, tendo em conta a conferência a 25, no Espaço Salitre-Amaro, em Lisboa, sobre a Tradição Espiritual Portuguesa e alguns dos seus elos: Bocage, Antero, Pessoa, Agostinho e Dalila. E a 27-II-2017 foi aperfeiçoado tendo em conta a conferência a proferir no dia 3 de Março no mesmo no Espaço Salitre-Amaro, em Lisboa, sobre a Dalila e onde tentaremos cingir os veios principais femininos da sua obra. E foi ainda relida e melhorada no dia 2-III-2018, sexto aniversário da sua passagem para o mundo espiritual, tendo em conta a celebração do seu centenário do nascimento a ser comemorado de 4 a 6 num Congresso no Porto, e num ciclo de conferências ao longo do ano, também nas margens do Douro, e nos quais participarei. Seguem-se as imagens que os anunciam, com muita gente a trabalhar luminosamente a Dalila e as suas aberturas e aproximações à Realidade...
Como sabemos e já lemos, a valorização da mitologia, da poesia, da filosofia e da mística como vias de salvação ou de iniciação foi uma das suas ideias forças ou vectorizantes da sua vida e obra e num dos seus talvez melhores livros, A Nau e o Graal, citemos, para concluir esta invocação da Dalila Pereira da Costa, uma sua boa transmissão da metodologia do conhecimento, como acto total de um ser total: «Em alma, corpo e espírito. Onde a realidade será conhecida partilhadamente pelo pensamento e sentimento. Onde o coração é o órgão eminente do conhecimento. Em participação com a Realidade»...
         Muitas saudações luminosas e de amor para a Dalila
Ghirlandaio: As Sibilas, ou da vidência da alma feminina, espiritual.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Da Espiritualidade na poesia de Bocage. 1ª parte. Congresso "Bocage e as Luzes do séc. XVIII"

                                              
                        Da Espiritualidade na poesia de Bocage.
Primeira parte da comunicação por escrito para as actas do Congresso de Bocage e as Luzes do séc. XVIII, realizado em Setembro de 2016 em Setúbal e no qual participei, ficando registada a minha interveção no Youtube: (https://youtu.be/SA70TPX5tLA) 
Já esta gravação é em Lisboa, em 20 de Novembro, com uma pintura de Bocage por Maria Da Fátima Silva, e a estatueta em bronze, esculpida por Broca, oferecida simpaticamente pela edilidade de Elmano Sadino no final do Congresso aos participantes...
O texto final nas actas apresentará alguns acrescentos em relação a esta gravação, que contudo terá um ou ou dois comentários breves adicionados ao texto...
                           
Transcrevemos ainda um dos mais belos sonetos espirituais, dedicado, por causa da morte da sua mulher, ao seu grande amigo, o médico e poeta, António Bersane Leite,  pai ainda de uma das musas amadas de Bocage.

«Tributo em ais, no coração gerados
Não dês à cara cinza, aflito esposo;
Roçam da vida o círculo afanoso
Caminhos florescentes, e estrelados.

Espíritos gentis, por Jove amados,
Volvendo a seu princípio luminoso,
Olham Sol não crestante, e mais formoso,
Vagueiam sem temor por entre os fados.

Com alta fantasia, e rosto enxuto,
Vê nos Elísios a imortal consorte.
Vê da Virtude a flor tornar-se em fruto.

Doce, augusta Verdade Amor conforte;
Em vós, à ímpios, a existência é luto,
E nos eleitos, um sorriso, a Morte.»

domingo, 13 de novembro de 2016

Dia dos Cogumelos e Duendes na Herdade do Freixo do Meio. 5º Encontro do Outono 2016

Cerca de duas  centenas ou mais de pessoas convergiram para a biológica Herdade do Freixo do Meio, no Alentejo, não longe de Montemor-o-Novo,  em busca de um dia bem passado com corridas, caminhadas, provas de cães e rebanhos, vendas de produtos e comidas, palestra e debate e sobretudo uma demanda de cogumelos e anões por entre os vasto montado e salutares energias da Herdade, realizada com bons diálogos e momentos de solitude. 
Havia muitas crianças e conversou-se com algumas sobre  os espíritos da natureza e se eles existem mesmo, tal como a capa deste livro e algumas fotografias sugerem:
Quanya gente já viu os anões? Quanta acredita na sua existência?
Este cartaz estava no chão para as pessoas não se fiarem nele, pois as aparências iludem em todos os reinos e quem vê caras mas não os corações arrica-se a ser enganado. E entrar mesmo no coração ou na essência dos cogumelos não é fácil...
O Alfredo Sendim, alma e director dos projectos do Freixo, explicando a demanda micológica.
A Catarina, mulher do Alfredo, à direita, certamente outra alma angélica a abençoar a Herdade e a terra...
Futuros luminosos...
Um dos momentos mais impressivos foi a participação da tuna dos perus veteranos que vieram mais uma vez dizer em coro que praxes já não é com eles
Haverá cerca de centena e meia de variedades na Herdade. As fotografias que se seguem mostram algumas
  Caminhos em s, espiralicos, serpentinos, energetizantes, infinitizantes....
Lux Dei
As bolotas de que a Herdade faz o seu famoso pão, que comercializa no Mercado da Ribeira, associaram-se a esta esbelta cogumelica entidade solar
Terra profunda, corações ardentes
Um espírito da natureza parece ver-se no cogumelo da direita
O diálogo entre o cogumelo e a pedra por vezes quase que petrifica o cogumelo
Não havia muitos avermelhados, um rosa suave por vezes tocava-nos

Árvore bem animada e com algumas faces de espíritos da Natureza
Acariciar, comensurar...
Uma rara fada dos cogumelos
Uma aparição shamânica que só eu fui testemunha...
Cogumelos divertidos
Um espírito da natureza, com as habituais ligações aos animais da região, manifestando-se numa parte de um cogumelo
Casas de anões, saudações...
Pequeno oceano de neve
Ondulações verdes
Pedra, árvore e os cogumelos aproveitantes
Cogumelo carneiro
Cogumelo livro ou esfoliado...
Árvore seca mas ainda dialogante...
Regressando luminosamente à cidade...
Um casal muito especial...
 
Danças dialogantes entre as dríades
Recolhas, ou da vida transitória dos cogumelos. Quanto aos anões, terão ou não apreciado tanta recolectagem, ainda que bem retirada e tratada (terra calcada) para permitir o ressurgimento deles?
Quais conchas do Oceano.. 
Entre a vintena de participantes, duas bancas vegans destacavam-se na oferta de alimentos e de produtos. Esta é a do Projecto Romã, da Tatiana e do Cláudio, já com muita experiência e em busca de uma  nova terra ou quinta. Magníficos os queijos de caju-amêndoa-óleo de coco-especiarias, e que foram o meu almoço, com um bom copo probiótico.
Uma das sábias explicadoras das variedades e comestibilidades micológicas, com um simpático casal e suas duas filhas recolectoras.
Um cogumelo cortado que se mancha de vermelho, ou do sangue vegetal, da sua evolução e potencial, sinal. E nós, se cortados, de que cor está tingida a alma?
Tau, ou duplo machado, a sangrar,
Almas bem entusiastas da música órfica, a que abranda as feras, amacia os penedos e abre os corações, aqui numa cantiga ao desafio...
Ainda houve o excelente rancho de Montemor a bailar, mas já a bateria estava a falhar....
A Lua Cheia ainda se deixou fotografar quando estávamos a começar a deixar o reino encantado do Freixo do Meio, lembrando-nos que no meio está a virtude e que a Lua segue o seu caminho bem acima da mutabilidade conflituosa humana e que  Dona Luna deve estar bem viva em nós...